quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Na garganta

E quanto às palavras não ditas, que fazer?
Talvez guardá-las num saco de guardar confetes.
Por sorte, minha memória cumprirá suas devidas funções (leia-se: esquecerá no momento mais oportuno e, claro, é justamente aquele em que eu não tenho, nenhuma consciência e/ou controle). Talvez elas – as palavras – se dissipem antes de eu acabar de escrever esta frase.
Eu mesma acredito que elas são revestidas daquele caráter enigmático próprio dos feitiços que somente os bruxos mais entendidos e experientes conhecem. Daí a analogia pífia que eu tive. Estava num momento nostálgico, por esses dias, a assistir Caverna do Dragão e me ative a personagem Presto. Nunca entendi minha predileção por ele e, embora não soubesse o porquê, sabia que o motivo ia além das cores da roupa dele. Para aqueles que já viram, saberão do que eu digo.
Creio que minha espécie de identificação/catarse aristotélica se originou da evidente e suposta falta de vocação do pequeno, que na maioria das vezes não consegue conjurar com eficiência as magias de que necessita. Ainda acho estranho, mas é a forma mais simples de dizer como me sinto com relação à escrita. Não gosto muito de escrever; sinto-me, por vezes, inapta para isso, como se eu desconhecesse os encantamentos próprios da “arte” de pôr em palavras o que se sente. Ainda não sei exatamente como fazer, contudo nada me impede de tentar, não é mesmo?!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Sem título

Agreste sentimento, que ousa invadir-me, eu te saudo.
Do quarto andar, eu vejo, apenas, o vazio.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Relato onírico



Fazia um sol escaldante naquele lugar, este que eu nunca saberei onde é tampouco, se existe realmente. Certo é que eu estava sentada na calçada de uma avenida que muito me lembrava a Avenida Conde da Boa Vista, quer seja por ser sempre tão movimentada, quer seja por não reconhecer ninguém naquele mar de gente.
Na cabeça um tanto confusa, só tinha uma certeza: precisava arranjar um jeito de voltar pra minha casa, no entanto eu não havia me dado conta de que eu estava sem dinheiro e sem documentos. Porém, antes que eu me descabelasse com esses dissabores, surgem meu amigo Thalles e sua mãe, que estranham o fato de eu estar sozinha naquela cidade e perguntam o que eu fazia por lá. Eu desconverso e não respondo, muito por que nem eu mesma sabia por que cargas d’água eu fui parar ali. Eles – creio eu - ao perceberem minha situação de total desnorteio, me oferecem uma carona (parece que Deus havia ouvido meus anseios por voltar pra casa). Logo, aceito a carona, sem cerimônias.
Então andamos até um edifício-garagem, e o carro deles estava no último andar. Subimos as escadas que pareciam não ter fim, contudo o que mais me incomodava era o fato de que à medida que passávamos de um andar a outro, a luz solar que incidia no prédio diminuía, a ponto de no penúltimo andar, eu não enxergar mais nada. Deste momento em diante, eu não sei bem o que aconteceu, só lembro-me de ter caído ali mesmo.
Não sei quanto tempo havia transcorrido até que eu voltasse à minha consciência. Quando isto aconteceu, eu estava com um pano amarrado à cabeça,o qual me impedia de enxergar as coisas ao redor, no entanto havia uma inscrição no pano, que me fez forçar a vista, com o intuito de ler a mensagem um tanto sem nexo que dizia : “a verdade só existe, se você existe; mas, minha querida, quem disse que você existe, Quem?” Fiquei sem entender, e meio angustiada, sem saber ao certo o porquê. Tentei tirar o pano, e quando eu conseguia tirar aquilo da minha face, outros panos que estavam por baixo uns dos outros apareciam sucessivamente com a mesma inscrição. Então eu tentei gritar, quem sabe conseguir a ajuda de alguém, entretanto eu não conseguia gritar. Por fim, eu consegui... acordar.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Entretenimento in(útil)

Miscelânea de Meme com questionários infantis enviado por email.


01 - Nome
Érica Pinto

02 - Quantidade de velas no teu último aniversário?
Uma só, e não foi um bolo, foi uma pizza de brigadeiro com uma vela, haha.

03 - Tatuagens?
Acho interessante, existe em meus planos espaço pra duas, só não sei o que será ainda.

04 - Piercings?
Nenhum, não usaria.

05 -Já foi à África?
Não.

06 - Já ficou bêbado?
Nunquinha, sou abstêmia.

07 - Já chorou por alguém?
Sim, sou chorona. ¬¬

08- Já esteve envolvido em algum acidente de carro?
Não.

09 - Peixe ou carne?
Carne, muita carne! \o/

10 - Música preferida?
No momento estou ouvindo muito Novos Baianos, Maria Rita e Lula Queiroga e , claro, Zeca Baleiro sempreeee. :D
11-Cerveja ou Champanhe ?
Prefiro soda ou suco de graviola.

12 - Metade cheio ou Metade vazio?
Metade cheio.

13 - Lençóis de cama lisos ou estampados?
Estampados.

14 - Filme preferido?
Túmulos com vista, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Adeus Lênin, Frida entre outros =D~~

15- Flor preferida?
Jasmins e Gérberas.

16 - Coca-Cola simples ou com gelo?
Soda limonada, Sprite e Kuat eco.

17 - Quem dos teus amigos vive mais longe?
Tem uns que insistem em viver metafisicamente longe de mim. É uma pena, por que essa distância é muito difícil de transpor. (...)

18 - Quem você acha que vai responder a esse e-mail mais rápido?
Eu não sou de responder emails, nem de olhar sempre o email, mas eu adoro questionários ahauha, mas só vou mandar pra ti, Pri. :*

19 - Quantas vezes você deixa tocar o telefone antes de atender?
É quase um TOC, sempre 3 vezes.

20 - Qual a figura do seu mouse-pad?
Não uso mouse-pad.

21 - Pior sentimento do mundo?
Indiferença.

22 - Melhor sentimento do mundo?
Felicidade.

23 - O que uma pessoa não pode ser para ficar com você?
Gosto de pessoas inteligentes, e de humor ácido. Isso responde né?!

24- Qual o primeiro pensamento ao acordar?
Eu deveria domir mais um pouco. haha

26 - Se pudesse ser outra pessoa, quem seria?
Eu seria Paulo Leminski ou o Barão de Rio Branco. \o/

27 - O que você nunca tira?
Mancha de roupa branca, por mais que eu esfregue ela insistem em permanecer lá. u.u

28 - O que você tem debaixo da cama?
Sandálias e sapatos.

29 - Qual a pessoa que talvez não te responda?
Só mandarei pra você, pri, portanto, ninguém responderá. ahuaha

30 - Aquele que com certeza vai te responder?
Idem a resposta 29.

31- Quem gostaria q respondesse?
Zeca Baleiro. =)

32 - Qual livro vc está lendo?
Dilbert, você está demitido e

33 - Uma saudade?
Eu sou um ser saudoso por natureza, minha vida é rememorar. =X

34 - Uma característica tua:
Sou discreta, ou tento ser.

35 - Decepções que tive em minha vida...
Tenho várias e algumas carrego no meu baú.

36 - Lugares em que morei?
Conjunto Beira-mar, Maranguape I (one), Espinheiro, Casa Caiada e Derby. (Ordem cronológica) :D

37 - Programas de TV que assistia quando criança?
Beakman, Castelo Ra-tim-bum, Glub glub, Xuxa park (omg), e X tudo.

38- Programas de TV que assisto hoje?
Eu vejo Toma lá da cá, Aline, Café filosófico, Sem censura e Sopa de Auditório.

39 - Lugares em que estive e voltaria ?
Natal e Maragogi.

40 - Formas diferentes que me chamam:
Só os que lembro agora, Bolha, Piu-amém, Pintinho, Pintão, Banana (aff), Érica-Pipa (painho q chama). =D

41 - Pessoas que me mandam e-mail quase todos os dias?
Não recebo emails todos os dias. =)

42 - Comidas Favoritas?
Coisas gordurosas... feijoada, dobradinha, bode, buchada, ai ai ..
e agora o vício é subway haha com muita, muita rúcula!

43 - Lugar em que desejaria estar agora:
Machu Pichu.

44 - Espero que este ano eu possa..
Realizar algumas coisas.

45- Mande um recado pra quem te enviou:
Pri, adorei o email, ahauha

Amo você, lindona!
:)

sábado, 31 de outubro de 2009

Uns versos

Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele
O seu casaco

Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo

(Adriana Calcanhoto)






http://www.youtube.com/watch?v=rwRVDpXneFQ&feature=player_embedded

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Um nó




Não sei se você já percebeu que há fases da sua vida em que as coisas acontecem quase simultaneamente. O problema se dá quando você percebe que esse turbilhão de fatos não aconteceu por acaso, simplesmente, deu-se o caso de surgir com o propósito de desviar a sua atenção do que, em outrora, te incomodou. (Será fraqueza olhar para os lados?)
Não acredito que isso tenha a ver com os 20 anos que eu agora carrego. Afinal, boa parte das mudanças aqui dentro do baú, certamente, têm características anacrônicas, as quais têm revolucionado certas idiossincrasias que eu mesma julgava serem inerentes a mim.
É bem verdade que ainda sei bem pouco (de mim e de tudo), todavia esses bons ventos me motivam a crer que Chronos me engolirá antes mesmo de poder sentir que tenho o controle. Tudo bem. Eu até gosto, se bem que, neste caso, eu não teria outra opção a não ser a de consentir.
Hoje, eu - que não gosto muito de escrever - senti uma vontade imensa de fazê-lo. E, dessa vez, foi tão natural quanto o meu novo hábito de andar pelo Derby comendo maçãs. Desta forma, eu não sinto o gosto delas. Então resolvi sentar em cima do baú e ver o sol se pôr daqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nublado



Em um dia chuvoso, uma menina azul caminhava através da Avenida Joaquim Nabuco. Ela sentia-se especialmente feliz embora não soubesse ao certo o que a tinha feito acordar tão bem, andava “meio encantada” e mostrava seu sorriso como estandarte aos transeuntes que ali passavam. Trazia consigo sua mochila roxa e imaginava-se como um caracol, que leva seu lar sob suas costas. Em suas mãos uma sombrinha, que ao sabor dos ventos, tornava-se pouco útil. E como companhia para aquela trajetória tinha uma profusão de devaneios.
- Eu sempre ando contra o vento. (Infelizmente!?)
(...)
Mas, Vento,
Eu gosto de você!
Um dia nublado também tem sua beleza. Talvez a menina veja além. Além das gradações de cinza na abóbada celeste.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O futuro, no outdoor, se anuncia luminoso


Dinheiro, bens e status social são alguns dos itens oferecidos nos vários outdoors luminosos espalhados pelo mundo. Tais outdoors, além de vender, fomentam sonhos e ilusões publicitárias de uma felicidade palpável e acessível por meio do poder aquisitivo.

Em contraste a esta ótica, sobretudo, materialista, têm-se os sentimentos, os conflitos e os anseios humanos que, por serem em sua essência espirituais e imateriais, dão característica de humanidade aos indivíduos. São questões, por conseguinte, que, muitas vezes, fogem da realidade tecnológico-mecanicista que nos é apresentada cotidianamente.

Numa tentativa de definição prática, a felicidade consiste no bem-estar e no contentamento humano, sendo, por isso, uma espécie de entidade criada pelo homem com o intuito de dar motivo a existência e a vida humana. Logo, o sentimento de ventura está atrelado às relações do indivíduo consigo mesmo e com os outros, e não com as coisas criadas por ele.

Entre estas criações estão os padrões socialmente aceitos de felicidade, os quais implicam certo alijamento dos indivíduos que, porventura, não agirem de acordo com estes parâmetros pré-estabelecidos. O que resulta numa pressão social que interfere no comportamento humano, haja vista o homem ser naturalmente político e sociável, como bem disse o teólogo Tomás de Aquino; surgindo daí a necessidade de interação e associação para assegurar a satisfação de suas necessidades físicas e metafísicas.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Matizes



Você vem de longe
De outra vida, de outro lugar

Se o meu sangue foge
É você que acabou de chegar
O amor consome
Desde quando é só afeição
Pois já traz seu nome
Como dona do meu coração
Mas você se admira
De me encontrar
Já eu fiquei bem perto
De tremular
Ficamos sós
Perdi a voz
Você sorriu
Foi quando eu ri também
Pensei que morreria...
Ainda bem!
De puro amor
Você tentou amenizar
Aquela emoção
Apanhando uma pedra no chão
Amor não pede nada
E o que sente logo exibe
Você, mesmo abalada,
Tem um encanto
Que me inibe
Na íris dos meus olhos

Mergulhavam seus matizes
A planejar o beijo
Que o desejo
Já exige!
[ Djavan ]

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O que é vida?

O que é vida senão o conjunto de funções que resistem à morte, afirmou o médico anatomista e fisiologista francês Bichat. Mas será mesmo possível encontrar uma definição esclarecedora para um dos assuntos mais sombrios e discutidos pelo homem?
Primeiramente, deve-se explicitar que tipo de vida abordaremos e justificar o porquê de alongarmos essa discussão sobre determinado conceito. Falaremos, portanto, de vida humana, haja vista ser de nosso conhecimento que apenas o homem tem capacidade de abstração e de raciocinar. Logo, somente o ser humano, dentre todos os seres que possuem vida, em seu sentido biológico, tem consciência de sua existência.
Tal consciência permite que o homem perceba-se como diferente dos outros seres viventes e como único entre os seus semelhantes. Desta forma, ele deixa de ser mero elemento constituinte do mundo da natureza e passa a ser ciente do outro e de si, com isso cria o mundo da cultura.
No decorrer da história, os humanos sempre buscaram respostas para suas indagações, ora nos conceitos científicos como a biogênese e a abiogênese, ora na religião e seus dogmas, ora na filosofia e seus infindáveis questionamentos. O fato é que, mesmo com tão vastas informações, o conhecimento humano parece não ser suficiente para chegar a consensos e teses que afirmem, com a certeza devida, o que realmente é a vida.
Muitos biólogos tentam conceituar vida como um fenômeno que anima a matéria. E para eles, um organismo é vivo quando há a existência de certos fenômenos como: crescimento do indivíduo através da produção de células; metabolismo que consiste no consumo, transformação e armazenamento de energia; movimento; reprodução e resposta a estímulos. Tais características são essenciais para distinguir os seres viventes dos seres inanimados, sob um prisma científico-biológico.
Ainda que esses fenômenos sejam absolutos na área a que se destinam, para nós, seres humanos, a definição de vida restrita a uma série de funções biológicas é insuficiente. Haja vista a importância que damos a raça humana em detrimento dos outros animais, e para entender o porquê de raciocinarmos desta forma, é necessário mencionar o Criacionismo e o Evolucionismo.
Ambos bastante relevantes para entender o pensar do homem contemporâneo em relação à consciência de possuir vida. O primeiro – alicerce do Cristianismo ocidental – afirma ser o homem imagem e semelhança de Deus, o qual, por meio de um sopro divino, daria ao homem o dom da vida e sobretudo o domínio sobre todos os seres viventes. Assim, pondo em primeiro plano a vida humana e subjugando os outros seres, sob a autoridade do Criador.
Por sua vez, o Evolucionismo – teoria cientifica cujo maior expoente é Charles Darwin – vem de encontro ao criacionismo, por que diz ser o homem, como o conhecemos hoje, mero resultado de sucessivas evoluções de um ancestral limitado em atributos e, por isso, igual aos outros animais em suas restrições, Perdendo, por conseguinte, a aura que o caracterizava e o distinguia como superior e meio divino.
Desta dicotomia, surge uma razão de ser paradoxal que consiste no fato de ser o homem, ora o exemplar de vida mais sofisticado em meio a tantas outras formas de vida, ora, apenas, uma dentre tantas formas de vida que mais eficientemente adaptou-se com o intuito de perpetuar sua espécie neste planeta.
Por outro lado, para Nietzsche, a vida é a moralidade, o querer, tudo extravasado pela vontade de poder dentro do corpo do indivíduo. E esse corpo a que ele se refere seria o pensamento humano. Também de acordo com o filósofo alemão, a vida não é uma calmaria, mas um conflito de desejos atravessados pelas diversas construções a cada instante pela experiência individual e coletiva. O que denota uma vida com um grau de complexidade maior do que um simples conjunto de funções biológicas.
Pode-se apreender, portanto, que viver implica, sobretudo, sentir e querer ser sempre ou quase sempre mais do que se é, o que Nietzsche chamou de Vontade de Poder, com a finalidade de encontrar sentido que motive sua existência. Mesmo que para o pensador a vida seja um absurdo e, por isso destituída de sentido, somente adquirindo sentido quando o sujeito vivente o cria para si, o que o torna sujeito livre. São, portanto, vivos somente aqueles, que por meio do exercício filosófico, se permitem questionar o sentido da vida, em conseqüência disto, podem, então, aproximar-se do conceito de vida em sua plenitude.
A partir daí, aparece outros questionamentos acerca de liberdade, pois partindo-se do pressuposto de que ao buscar sentido para vida, obtém-se consciência de si como indivíduo, como ser vivente e como possuidor de livre-arbítrio. O que aparentemente mostra-se agradável, visto que enxerga-se liberdade como fim primordial do ser humano. Sob uma ótica nietzscheana, contudo, liberdade é um fardo, mas que somente é tomado por aqueles que corajosamente admitem a vida como ela se apresenta.
No entanto, hodiernamente, tem-se a redução da vida ao poder de consumo de cada ser humano. Sendo, por isso, comum achar-se que para ser, é necessário ter. Sabe-se que esta forma de pensar é fruto do Materialismo e do Utilitarismo tão em voga no modo de produção capitalista em que estamos inseridos.
Tal modo de produção induz ao consumo e à necessidade de consumir exacerbadamente, criando em torno de si um círculo vicioso, no qual o homem é mais uma peça em meio a tantas engrenagens, de acordo com uma visão de mundo mecanicista cartesiana. Portanto, a vida humana seria produzida em série, a fim de preencher funções inespecíficas na enorme máquina-mundo.
Embora a lógica nos diga que esta idéia, seres engrenagens em um planeta-indústria, é perfeitamente aceitável, algo nos seres humanos que se nomeia de essência, de individualidade ou de sentimento de humanidade nos diz o contrário. Prova disso é que cada um deles, além de destacar os homens do mundo da natureza, nega a massificação do querer, do pensar e do agir humanos.
Essa massificação acarreta mudanças sensíveis nas relações pessoais das quais tanto depende a vida humana, pois, segundo o filósofo grego Aristóteles, o homem é essencialmente político e sociável. Essas mudanças consistem na fragilidade das diversas formas de relacionamento, que, muitas vezes, são baseadas no pragmatismo e no “do ut des” – dou para que dês -, transformando as interações humanas em ligações superficiais e as demonstrações de afeto em meras ações mecânicas e automáticas. O que resulta numa grande inversão de valores e na dúvida da real importância da vida.
Surge, então, o intenso uso dos meios de comunicação como a internet para preencher a sensação de vazio e de solidão do viver humano que, geralmente, advém de ideologias como o individualismo. Este, por sua vez, afasta os seres humanos uns dos outros, intensificando as angústias e tormentos da alma humana. Daí, o fato de doenças psíquicas e psicológicas como a depressão e a fobia social serem tão comuns em nossos dias.
Um dos sintomas mais graves desses males é a ausência de vontade de viver e a falta de sentido que motive a existência. O que, algumas vezes, leva ao suicídio. Demonstra-se, assim, que realmente as questões da vida e de sua importância estão em segundo plano. Em suma, o bem-estar e o bem-viver são postergados, em detrimento da preocupação e da busca insana e quase irracional por sucesso, dinheiro, bens e status social.
Importa dizer que, para mim, embora seja um “topoi”, a beleza da vida está nas coisas simples, no ato de contemplar o mundo sensível, no estudar com afinco e questionar a própria vida, e no abraçar cada pessoa e sentir inteiramente o afeto daquele gesto. Certamente, não chegaremos a uma única definição ou resposta, porém, melhor do que o fim, é o caminho que percorremos até ele; e é provável que a vida seja também o enigma que tentamos decifrar enquanto compartilhamos e usufruímos dele neste exato momento.