quarta-feira, 17 de março de 2010

enchantagem

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo


esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima


de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito




pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito


que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar


tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade


o pau na vida
o vinagre
vinho suave


pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade


-Paulo Leminski-


quarta-feira, 3 de março de 2010

Prelúdio


Satisfeita, enfim. De certa forma, ajustada a alguns critérios da sociedade meritocrática em que subsisto. Ainda estou sorvendo doses homeopáticas da efeméride do contentamento. Cercada dos mais estranhos sortilégios e um tanto certa de é que só mais um caminho, só mais uma escolha; queira Deus a melhor delas. Se bem que ela, a escolha, tem não sei o quê que a torna faca de dois gumes: é, para mim, concomitantemente, poder de decisão e renúncia.

Resta-me, somente, contemplar o modesto e já tão gasto emaranhado em que me encontro.
Logo eu que tanto ponderei e considerei até me cansar, eis me aqui retornando, tacitamente, ao princípio.