quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Pop Zen

Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
Não lhe pertence nem nunca lhe pertencerá
Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
Pertence ao tempo que tudo transformará
Só é seu aquilo que você dá
Só é seu aquilo que você dá

Tudo aquilo que você não percebeu
Tudo que não quis olhar
É como o tempo que você deixou passar
Tudo aquilo que você escondeu
Tudo que não quis mostrar
Deixe que o tempo com tempo vai revelar
Só é seu aquilo que você dá
Só é seu aquilo que você dá
E o beijo que você deu é seu
E o beijo que você deu é seu

(Manuca Almeida)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A espera

Ele já não sabia a que caminho isso o levaria e isto, no entanto, não parecia incomodá-lo de todo. Já havia tentado muitas vezes, mas, por fim, percebeu que de nada adiantou. O desconforto apertava o peito. Sentia desde a ponta da língua, daquela diminuta parte onde se sente o doce até a base dela, aquele amargo insuportável que travava a garganta ao fim, o que o fez lembrar a sensação dos instantes anteriores que nos prediz o tempo de as lágrimas escorrerem pela face.


Parou por um segundo e deixou-se estar ali mesmo no chão. Não conseguia controlar nem direcionar pensamento algum. Respirou fundo por alguns minutos, naquela busca de manter-se sereno, mas não parecia fazer efeito, os pensamentos estavam soltos demais de modo que pareciam ter vida própria.



Depois dos últimos eventos, nada mais foi dito.
Palavra alguma merecia ser proferida e o silêncio preenchia toda a antessala.

p.s. The young apprentice, Modigliani (1918).

domingo, 14 de agosto de 2011

 "- [...] Sinto sêde, Govinda e no curso da longa caminhada
que fiz junto com os samanas, a minha sêde não diminuiu
em absoluto. Sempre almejei o conhecimento; sempre abriguei
em mim grande número de perguntas. Consultei os brâmanes, ano por ano,
e consultei os sagrados vedas, ano por ano, e consultei os piedosos
samanas, ano por ano. Talvez, ó Govinda, fôsse igualmente oportuno,
sensato e proveitoso interrogar uma ave ou um chimpanzé. Gastei muito
tempo e ainda não cheguei ao fim, para apenas aprender isto: que não se
pode aprender nada! Acho eu que a tal coisa que chamamos "aprender" de fato
não existe. Existe, sim, meu amigo, uma única sabedoria, que se acha em tôda
a parte. É o Átman, que está em mim e em ti e em qualquer criatura. E por isso
começo a crer que o pior inimigo dessa sabedoria é a sêde de saber, é a aprendizagem. [...]"

Sidarta, do Hermann Hesse, pág 18.

domingo, 10 de julho de 2011

No pain, no gain

- Meu irmão, eu estou embriagada...
- De quê?!
- De felicidade!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pondo o preto no branco


Eu me sinto em branco.
Por dentro, um vazio branco.
Vazio não. É algo como uma massa disforme e branca.
Como um bicho, no uso de seus instintos e nada mais.
Como alguém que se esqueceu de seu caráter de humanidade e,
Despudoradamente, vê o mundo passando em branco.
Em brancas nuvens.
Branco como esse papel,
Antes de eu começar a vomitar esses sentimentos.
Se é que se pode chamar a isto com este nome.
Tem horas que eu já nem sei.
Não sei de mim, não sei do mundo.

O mundo parece-me tão atraente,
Sempre tão cheio de luzes coloridas
Que eu, embora míope, consigo perceber e ficar encantada,
Por vezes, entorpecida diante de tamanha magia.

Ando tão leve e já nem sei se quero saber aonde vou,
Tendo a ficar mesmo por aqui,
Juntamente com a bagagem daquele velho e gasto baú que traz algumas novidades.
Estas que costumavam ser tão belas,
De um escarlate tão bonito (como devia ser), como era de sua própria natureza.
Era, e ainda é, de um vermelho inefável,
Até que, não sei por que razão
(E, às vezes, sinto como se soubesse, mas tivesse medo)
Resolveram por desbotar.

De início, aquela vivacidade intensa perdia-se paulatinamente.
Pouco a pouco,  tornaram-se meio róseos
Como o céu quando está prestes a chover.
E a chuva aqui nunca me pareceu tão severa,
A ponto de agora parecer cada vez mais branco.
Branco! E isto me leva ao começo deste devaneio,
Como num eterno regresso, tal qual a pedra que se desvencilha de Sísifo.
Chego até a mensurar a angústia dele. Pobre Sìsifo.

Pobres estão minhas ideias e meu anseio por esperança.
.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Far far

Far far, there's this little girl
She was praying for something to happen to her
Everyday she writes words and more words
Just to speak out the thoughts that keep floating inside
And she's strong when the dreams come cos' they
Take her, cover her, they are all over
The reality looks far now, but don't go

How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside
How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside
Oh oh oh oh

Far far, there's this little girl
She was praying for something good to happen to her
From time to time there're colors and shapes
Dazeling her eyes, tickeling her hands
They invent her a new world with
Oil skies and aquarel rivers
But don't you run away already
Please don't go oh oh

How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside
How can you stay outside?
There's a beautiful mess inside

Take a deep breath and dive
There's a beautiful mess inside
How can you stay outside?
There's a beautiful mess
Beautiful mess inside

Oh beautiful, beautiful

Far far there's this little girl
She was praying for something big to happen to her
Every night she hears beautiful strange music
It's everywhere there's nowhere to hide
But if it fades she begs
"oh lord don't take it from me, don't take", she says

I guess i'll have to give it birth
To give it birth
I guess, i guess, i guess i have to give it birth
I guess i have to, have to give it birth
There's a beautiful mess inside and it's everywhere

So shake it yourself now deep inside
Deeper than you ever dared
Deeper than you ever dared
There's a beautiful mess inside
Beautiful mess inside

Yael Naim

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A deus

Hoje faz um mês do dia em que trocamos nossas últimas palavras. Uma mordida e, logo em seguida, um breve afago, desses de quem se vai pra não mais voltar. Por fim, qualquer palavra áspera o suficiente para demonstrar todo o amargo que fica retido na garganta nos momentos finais.
Despidos de tudo que possa ser usado como escudo, ela me observa mais uma vez, mas me olha como se fora a primeira e a última, tal qual os completos desconhecidos procedem, ou mesmo os transeuntes sob seus guarda-chuvas, talvez os invisíveis em seus mundos particulares ao se esbarrarem também façam o mesmo. E fazem-no tão bem.
Mas bem já não me faz.