sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pondo o preto no branco


Eu me sinto em branco.
Por dentro, um vazio branco.
Vazio não. É algo como uma massa disforme e branca.
Como um bicho, no uso de seus instintos e nada mais.
Como alguém que se esqueceu de seu caráter de humanidade e,
Despudoradamente, vê o mundo passando em branco.
Em brancas nuvens.
Branco como esse papel,
Antes de eu começar a vomitar esses sentimentos.
Se é que se pode chamar a isto com este nome.
Tem horas que eu já nem sei.
Não sei de mim, não sei do mundo.

O mundo parece-me tão atraente,
Sempre tão cheio de luzes coloridas
Que eu, embora míope, consigo perceber e ficar encantada,
Por vezes, entorpecida diante de tamanha magia.

Ando tão leve e já nem sei se quero saber aonde vou,
Tendo a ficar mesmo por aqui,
Juntamente com a bagagem daquele velho e gasto baú que traz algumas novidades.
Estas que costumavam ser tão belas,
De um escarlate tão bonito (como devia ser), como era de sua própria natureza.
Era, e ainda é, de um vermelho inefável,
Até que, não sei por que razão
(E, às vezes, sinto como se soubesse, mas tivesse medo)
Resolveram por desbotar.

De início, aquela vivacidade intensa perdia-se paulatinamente.
Pouco a pouco,  tornaram-se meio róseos
Como o céu quando está prestes a chover.
E a chuva aqui nunca me pareceu tão severa,
A ponto de agora parecer cada vez mais branco.
Branco! E isto me leva ao começo deste devaneio,
Como num eterno regresso, tal qual a pedra que se desvencilha de Sísifo.
Chego até a mensurar a angústia dele. Pobre Sìsifo.

Pobres estão minhas ideias e meu anseio por esperança.
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