segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Umbigo

Uma ideia. Uma pequenina ideia.
Uma vontade. Esta, talvez imensurável.
Um ímpeto; e a expressão se mostra realizável.
Faz-se a perfeita concretização da coisa per si, resultado de um ato volitivo impensado.
Peças-chaves de um cenário onde a perfeição nem sequer existe, onde a perfeição não passa de um conceito vazio de sentido, mero signo à espera de um conteúdo só dele. Infestado de parâmetros cuja confiabilidade é sem dúvida questionável.

Ao menos, com a distância dos fatos e com um possível olhar de observadora impassível - impassibilidade que só é conseguida com o devido afastamento -, parece-me, e agora bem mais nítido que antes, impensado.
Dessa forma, até parece fazer algum sentido.
Mostrando-se compatível com a noção de racionalidade que permeia boa parte das razões de ser de tudo o que eu posso com o meu pensar alcançar. 

O caso é que ainda trago comigo todas as ressalvas que tanto me serviram de marquise nos temporais. Hei de carregá-las ainda por um bom tempo, ao que tudo indica. Ferramenta mais que preciosa, embora pesem um bocado, sua inegável e grande utilidade me impedem de deixar de mão.
Chego mesmo a considerar, no calor do momento, que a rigor elas consistem em um dos elementos que fazem de mim um ser menos desprezível do que eu poderia suportar ser.

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma parte que não tinha

Não tem sol, nem solução
Não tem tempero no meu dia
Não faz mal se a tradição nos traduz outra alegria
Não ter pressa dá a impressão de que a tarde virou tédio
Não tem bala, belo, bola ou balão
Não tem bula meu remédio.

E não tem cura...
Acho que me perdi numa excursão
Que fiz na tua
Na tua certeza e na contradição
E não tem cura...
acho que me perdi numa excursão
que fiz na tua
Na tua palavra, no teu palavrão

Não tem sol, nem solução
Não tem tempero no meu dia
Não faz mal se a situação nos traduz outra alegria
Não ter festa dá a impressão
De que o mundo ficou sério
Não tem bala, belo, bola ou balão
Não tem bula meu remédio.

E não tem cura...
Acho que me perdi numa excursão
Que fiz pra lua
No meu universo o sol é solidão
E não tem cura...
Acho que me perdi numa excursão
Que fiz pra lua
No meu único verso o sol é solidão

Não tem mal, nem maldição
Não tem sereno no meu dia
Não tem sombra e assombração
Não tem disputa por folia
Tem bola de capotão,
Capitão capture essa menina
Tem saudade e saudação
Tem uma parte que não tinha...
Uma parte que não tinha...
Uma parte que não tinha...
(Fernando Anitelli - O Teatro Mágico)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Algum lugar

Igreja com escadarias, sino e cruz. Mendigo sentado em frente ao templo. Vaquinha esperando ser ordenhada pelo seu proprietário Na ausência de sol, só resta imaginar que é um dia ensolarado. Casa bem localizada com janelas a vontade e pé de jambo. Ao lado da árvore, uma menina lê "As Flores do Mal" do Baudelaire. Nesse meio tempo, no lugarejo pacato (e completamente mal feito quanto às proporções e tudo o mais) passa uma van. Mais uma segunda-feira que vai passando. 
[Da série: Coisas que eu faço enquanto tenho aula chata - desenho de 14/06/10.]

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sobre o fado ou o acaso

Hoje eu não despertei tão disposta quanto ontem - haja vista eu ter acordado às 8 em ponto e não estar com meu mau humor matinal nem tampouco com resquíscio do sono recém-findo - levantei às 10:30, como de costume, tomei um banho e lavei os cabelos com o meu xampu preferido. Afora minhas outras atividades rotineiras, saí atrasada para o curso de inglês, one more time. Ainda na parada de ônibus que fica embaixo de algumas árvores do bairro sensivelmente arborizado em que moro, esperei o único ônibus que passa por minha rua. Passado alguns minutos, sinto cair sobre minha cabeça um pouco de cocô de pássaro (que beleza, hein!). Após praguejar baixinho e mentalmente com todo o repertório de palavrões que eu conhecia, lembrei da última vez em que algo parecido tinha me acontecido.
Certa vez, eu estava saindo para ir ao colégio usando pela primeira vez um par de tênis - muito desejado por mim àquela época - que eu acabara de ganhar. Fato é que logo que eu pus os pés, devidamente calçados, na rua, em frente a uma das casas em que vivi, pisei em bosta de cachorro e antes mesmo que eu me pusesse a maldizer por pura irritação, ouvi o seguinte comentário, vindo provavelmente do meu pai: "pisar em merda é sinal sorte, traz dinheiro!". Depois de lavar os sapatos e seguir meu rumo, pensei que talvez aquela fosse uma boa maneira de ver as coisas.
Outra lembrança quanto a isto me remete a uma aula de literatura que explicava o porquê de artistas, antes do início de algum espetáculo, desejarem merda uns aos outros; algo do tipo: - Merda pra você! Tal expressão, segundo meu professor, é oriunda do costume de artistas franceses que começaram a dizer a palavra merda como uma espécie de saudação antes dos espetáculos. Tal ação advinha da história de certo ator, que no dia de sua estréia, tem vários problemas e quase não chega ao teatro, além disso, ele estava bastante nervoso e antes de entrar no teatro pisa em um cocô e ainda que tudo tivesse dado errado, ele consegue, por fim, atuar impecavelmente e saí do teatro com a sensação de ter feito o melhor trabalho até aquele momento. Essa tradição de dizer merda, evidentemente, tornou-se generalizada principalmente entre os artistas, o que implica dizer que os atores, ao proferirem o vernáculo merda, estão simplesmente desejando sorte e que o destino seja feito.
Para mim, que ainda não sei se devo apostar tanto assim na sorte e que vê o destino com olhos de admiração e desconfiança, prefiro crer em uma merda à moda francesa, posto que me é mais gratificante pensar assim, depois de ser acertada pela caca alheia de aves desconhecidas.
Ainda no âmbito do desconhecido, sinto-me imersa (ou seria emersa?) numa conjectura aparentemente inteligível, embora só consiga enxergar nuances deste ubíquo universo particular que sobre mim pesa e que, concomitantemente, se confunde com o que sou. No mais, como diria o imperador romano Júlio César: "alea jacta est". A sorte está lançada e eu não sei em que gaveta eu guardei os dados.

domingo, 5 de setembro de 2010

Das coisas de dentro

E se por acaso isso cair no esquecimento. E se o que sei não for nada mais do que o ponto do sinal interrogativo. Ao menos parece que ainda há certa estrada a percorrer, antes de mudar o caminho. Por um momento, eu pensei que minha bússola, sempre tão precisa, estivesse dentro do baú. Parecia-me tão seguro, mas vejo que eu devo ter me enganado. E mesmo sendo feita de palavras e conceitos, faltam-me o léxico adequado, o signo necessário que me ajudariam com aquele sentido inexato, aquela parte de difícil acesso, aquilo que de tão escondido e protegido parece não querer mostrar sua face e suas particularidades.

Quando setembro vier

De tão azul, o céu parecerá pintado. E nós embarcaremos logo rumo às ilhas Cíclades.


Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaléias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro. Setembro estava chegando enfim.


(...)
 Caio F. Abreu
http://contoseencantoscf.blogspot.com/2010/09/quando-setembro-vier.html

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Bandeira

Uma pitada de poesia pra trazer o lirismo que, em outrora, temperava até mesmo os dias nublados de agosto.
Quem sabe um dia eu, enfim, consiga pôr em verso as notas distintivas de um viver ralo que mal e parcamente persiste em me acompanhar.
Navegar é preciso, sonhar é preciso, o que mais se faz preciso, precisamente? Tudo aqui ainda cheira a indecisão, esta, sim, clara e bem delineada em meus pensamentos.

O que eu quero de você

não quero voltar para casa    
no seu abraço
não busco o que perdi
nunca pensei fazê-la cúmplice
da minha solidão
nem me passou pela cabeça
jogar sujo
com você --
 
você é o vento quente
que me acompanha
o enigma que não precisa ser decifrado --
 
de você eu quero apenas
um filhote de lobo
um filhote de lobo
para morder minha mão direita
quando eu estiver no escuro
depois que o amor acabar
 
-Fabrício Corsaletti-

Seu nome

se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho no suspiro final balbuciarei o seu nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome

se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome

minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem "mãe" em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem "filha" em vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no seu nome
cabala é uma palavra linda mas não chega aos pés do seu nome

no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida mas isso não tem nada a ver com o seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu nome
talvez eu não seja um poeta à altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome
(esquimó – corsaletti, f. [p.74 a 76])

domingo, 8 de agosto de 2010

Mantra

Após deslocar a mandíbula de Lênin,
pus em seus lábios a ideia fixa, que me impregnava os sentidos:
"nem todos os dias são feitos de açúcar".

Lucro

à noite
fantasmas das coisas não ditas
sombras das coisas não feitas
vêm
pé ante pé
mexer em seus sonhos

as cidades do ocidente
gritam
gritam
demônios loucos
por toda a madrugada

(Paulo Leminski - 
Não fosse isso
E era menos
Não fosse tanto
E era quase)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

(Re)Leituras

Como bem disse Saramago, em seu penúltimo livro Viagem do Elefante, nós sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam. Nada melhor do que começar um texto a partir de uma citação dele, escritor a quem eu tinha carinho especial. A despeito de sua afirmação contundente, creio que ainda não sei se estamos fatalmente destinados a isto, mas certamente é um conforto lembrar a existência desta possibilidade. Parece-me, de fato, mais do que confortante, é escatológico como boa parte do alicerce ideológico das religiões. É nada menos que um fatalismo que abraça boa parte dos nossos anseios.

Eu tinha começado a escrever este texto uma semana após a morte de Saramago, muito embora eu tivesse escrito apenas os dois primeiros períodos acima transcritos, não saberei agora precisar o que me fez continuar agora, talvez isso tenha a ver com uma cena que eu vi semana passada num hospital, lá eu vi solidão e tive medo. Medo de estar só na hora da morte, medo de não ter ninguém ao lado pra segurar a mão no momento final, visto que o fim é a única certeza. E o que fiz eu, querendo evidentemente compartilhar minha análise do pobre moribundo atrelada à angústia de vê-lo só, sem ninguém ao lado para ouvir seus delírios, liguei para minha mãe. Quem mais poderia entender minha observação trivial e espontânea?! Ela me ouviu e disse-me com doçura: - quer que eu vá buscá-la, não se impressione, boa parte das pessoas procuram isso. Considerei um pouco suas palavras e desliguei. Posteriormente estendemos nossa discussão e chegamos a outras tantas conclusões. (...)

Pensando bem acho que o que me fez continuar de onde parei o meu texto foi simplesmente vontade de escrever. Tentando pôr em palavras as ideias que andam flutuando aqui dentro deste baú gasto porém jovem. Esse baú, como diria Leminski, (e quem mais poderia dizer mais e melhor do que ele?) que está agudamente vazio ainda que esteja cheio de tudo. No mais, termino com o trecho de A Jangada de Pedra, meu livro favorito do José Saramago, o primeiro que li dele, e que encerra e diz muito mais do que eu poderia expressar com minhas palavras limitadas sobre o que senti e sinto.


 "..., e estando José Anaiço de costas para a cozinha, donde a luz vem, continuamos sem saber que feições são as suas, parece este homem que se esconde, e não é tal, quantas vezes aconteceu mostrarmo-nos como quem somos, e não valeu a pena, não estava lá ninguém para ver."

Bem Natural

Eu sempre fiz
De quase tudo a fim
De não fazer mal a ninguém
Mas nem assim
Quis tudo que fiz, meu bem

Não é natural
Tão natural

Você me diz
Não dissimulo bem
Uma resposta dita em vão
Se eu digo sim
É pra você, não pra mim, então

Não é natural
Tão natural
Nem tão natural
Bem natural

Sendo assim por obrigação
Um bem, meu bem é não
Sendo assim por obrigação
Meu bem, um bem é mal
Sendo assim por obrigação
Um bem, meu bem é não
Sendo assim por obrigação
Meu bem

Serei feliz, quando agir por mim
Sem querer nada no fim
Nem peso ou culpa,
Só sinceridade faz bem
(Móveis Coloniais de Acaju)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A essência do deixar pra lá

Há um céu sem estrelas
Há um silêncio que o preenche
Há, também, a rua vazia
Esta que é tão cheia de vida,
Tão cheia de cinza

E aqui, bem aqui,
Há qualquer coisa sem nome
Há algo que almeja ser e não o é
Há isso que, de tão amorfo,
Parece já ter nascido morto.

Há uma chave em algum lugar
Há aquela chave naquele lugar
Haverá uma porta também?
Existe uma necessidade maniqueísta
Que exige dualidade
E, por isso, uma porta
Por que não uma janela - dessas de pinho - bem grande?

Há uma senha, um segredo
Há quase tudo ainda por dizer
Palavras cuja existência,
Talvez, ainda desconheça

Há muito a aprender, muito por descobrir
De dentro para fora, eu, por inteira, amanheço
Há um sol em mim?
Eis que ressurjo, tal qual a fênix mitológica, das cinzas

Há um sem-número de verdades
Uma deve satisfazer, eu suponho
Vamos, menina!
Adentre no barco das certezas mais incertas
Navegue nesse mar de mentira(s)
E pegue a verdade que lhe couber
Tamanho M que é pra não ocupar tanto espaço
(fevereiro - 2010)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

D. Lúcia



Eu queria falar sobre a minha mãe. Eis-me aqui. 
Tentando ficar longe de idealizações, posto que entre ela e eu há inúmeras divergências, posições distintas sobre tantas coisas, formas de ver a vida que, por vezes, consiste num abismo etário e ideológico. No entanto, a admiração, que tenho por ela, faz com que muitas vezes eu veja muito dela em mim, a ponto de eu dizer pra mim mesma ou até mesmo proferir a torto e a direito que "Eu sou muito minha mãe". Mas, ao comparar a história da minha mãe com a mães de pessoas amigas e conhecidas pode parecer até meio chato e pouco convincente, contudo, eu penso comigo mesma e concebo sua imagem atrelada a pensamentos de vanguarda e a atitudes bastante corajosas. Em outras palavras, utilizando de alguns lugares-comum, minha mãe é dessas que enfrenta as adversidades de cara limpa, carrega consigo uma idoneidade e honestidade singular, e a cada ano que passa, ao invés de se acomodar e esperar a morte chegar "como diria Raul Seixas", ela ergue a cabeça, embora a vida diga alguns nãos, e procura escrever seus próprios sim's em sua trajetória.
 Tenho por ela um afeto e um carinho enorme, embora a meu ver, os meus sentimentos pareçam menor do que o amor que ela me dedica, embora eu pense que mensurar sentimentos seja coisa para ingênuos que ainda não conseguem perceber que isso não se pode pesar numa balança tampouco racionalizar a ponto de perder a razão de ser. Devo estar incluída ainda no grupo dos ingênuos.
No mais, só poderia dizer que ela é fundamental para a formação do que eu sou.Além de disso, ela busca e almeja à realização não só na faculdade da maternidade, fato que  muito me alegra e me deixa um tanto orgulhosa, haja vista ela debruçar-se sobre os estudos em busca de conhecimento geral e auto-conhecimento, o que tem feito com muita presteza ao retornar aos estudos, cursando uma área do conhecimento que muito me apraz. O que, para mim, é reflexo e síntese de sua postura e de suas escolhas no decorrer de sua vida.
Por fim, não poderia deixar de dizer que a minha Mãe é corajosa, teimosa, inteligente, independente, sensível, chata, séria, amiga, sem-noção, linda, forte, guerreira e mais um sem-número de adjetivos.
Em suma, eu só queria que você soubesse que, mesmo isto sendo um clichê, você tem sido a melhor mãe que você pode ser e eu, certamente, sou e serei grata por tudo.
Te amo, mainha.
Tu és a minha linda, meu colo, meu amor todinho.

"Mainha tá com frio, tá com frio, tá com frio...
Érica quer domir, quer dormir, quer domir...
Estevão quer biscoito, quer biscoito, quer biscoito...
Canção de Painho, lembra?!"

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Uma óptica

Eu me mostro e acho tão confuso
Eu escrevo e acho tudo igual
Eu fecho os olhos e consigo me enxergar melhor

Você não se mostra e torna tudo mais confuso
Você joga com palavras e desfaz as ambiguidades
Você permanece de olhos abertos,

No entanto, não consegue ver o que eu só consigo de pálpebras cerradas.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

De mundança

Saudações,
Justamente quando eu estou começando a gostar disto aqui, eu não tenho mais tanto tempo ocioso para tal fim. Resolvi fazer umas mudanças (dar uma repaginada) no layout, nas cores e nos nomes. Espaço silente era tão 2006, tão herman hessiana, mas passou; é preciso acostumar-se com a efémeride das coisas e isto, obviamente, inclui blogs também. O título, como vemos, continua de uma breguice característica, mas talvez, tenha qualquer coisa de contemporâneo, ao menos para mim. Em suma, era só isso. Descobri que escrever minhas bobagens neste espaço é bem gratificante. A próposito, quero agradecer aos comentários(ametistas verdes) dos meus 4 ou 5 leitores que costumavam passar os olhos de vez em quando, mas infelizmente os comentários foram apagados por obra desta coisa que eu não sei mexer direito. No mais, espero voltar a escrever com minha assiduidade de outros tempos: leia-se 2 posts por mês. Um abraço apertado pros zumbizinhos que vez por outra aparecem por estas bandas do espaço internético.


quarta-feira, 17 de março de 2010

enchantagem

de tanto não fazer nada
acabo de ser culpado de tudo


esperanças, cheguei
tarde demais como uma lágrima


de tanto fazer tudo
parecer perfeito
você pode ficar louco
ou para todos os efeitos
suspeito
de ser verbo sem sujeito




pense um pouco
beba bastante
depois me conte direito


que aconteça o contrário
custe o que custar
deseja
quem quer que seja
tem calendário de tristezas
celebrar


tanto evitar o inevitável
in vino veritas
me parece
verdade


o pau na vida
o vinagre
vinho suave


pense e te pareça
senão eu te invento por toda a eternidade


-Paulo Leminski-


quarta-feira, 3 de março de 2010

Prelúdio


Satisfeita, enfim. De certa forma, ajustada a alguns critérios da sociedade meritocrática em que subsisto. Ainda estou sorvendo doses homeopáticas da efeméride do contentamento. Cercada dos mais estranhos sortilégios e um tanto certa de é que só mais um caminho, só mais uma escolha; queira Deus a melhor delas. Se bem que ela, a escolha, tem não sei o quê que a torna faca de dois gumes: é, para mim, concomitantemente, poder de decisão e renúncia.

Resta-me, somente, contemplar o modesto e já tão gasto emaranhado em que me encontro.
Logo eu que tanto ponderei e considerei até me cansar, eis me aqui retornando, tacitamente, ao princípio.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Sem fantasia

Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus


[Chico Buarque]


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Bilhete





Dona Timmi, dez vezes hoje,
desejei mandá-la às favas.


Atenciosamente,

Sua cria.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Seguindo o coelho branco

No fundo, eu já sabia. Na superfície também, o que pode parecer evidente. No entanto, eu ainda pensava que já não tinha mais para onde crescer. Já sinto a fadiga, o cansaço e a dor que acompanham esses tempos. Então, é isto: crescimento. Se eu pudesse optar, escolheria o pacote indolor.

Pois é, caríssimos, dói demasiadamente esta pseudobtenção de consciência que acompanha os adolescentes quase adultos imersos nesta realidade cheia de eventos bruscos, com o fim maior de ultrapassar certos entraves que ofuscam a maturidade, esta que a nós, por vezes, parece-nos tão acessível. E eu quero acesso de fato. Quero calmaria também se assim for possível.

Uma pitada de desafio aqui, um punhado de contradições acolá. As noites de sono perdidas e mal-dormidas, aos poucos, fizeram acordo comigo, os fantasmas que habitavam meu lugar estão de mudança, certamente hão de errar por obscuras paragens distantes daqui.

[Stop.]

Hoje o céu tem nuvens róseas que desbotam na imensidão negra. Vejo tudo com mais nitidez. Estes óculos vieram bem a calhar. Concentro-me e posso enxergar dentro de mim. Também posso ver você agora. Imagem translúcida, ou seria trans e lúcida. Vai saber...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Aos zumbis que ,vez por outra, passam por aqui


Idéias desconexas.

Palavras sem sentido se desencontram num emaranhado de vernáculos surreais.

Achados que povoam minha mente me fazem crer que os meus pensamentos só fluem naturalmente nos segundos que antecedem meus instantes antes do descanso quimérico.

Precisa-se, definitivamente, de uma receita batuta para afastar essa insônia que teima em se fazer presente.


Boa noite.