quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Na garganta

E quanto às palavras não ditas, que fazer?
Talvez guardá-las num saco de guardar confetes.
Por sorte, minha memória cumprirá suas devidas funções (leia-se: esquecerá no momento mais oportuno e, claro, é justamente aquele em que eu não tenho, nenhuma consciência e/ou controle). Talvez elas – as palavras – se dissipem antes de eu acabar de escrever esta frase.
Eu mesma acredito que elas são revestidas daquele caráter enigmático próprio dos feitiços que somente os bruxos mais entendidos e experientes conhecem. Daí a analogia pífia que eu tive. Estava num momento nostálgico, por esses dias, a assistir Caverna do Dragão e me ative a personagem Presto. Nunca entendi minha predileção por ele e, embora não soubesse o porquê, sabia que o motivo ia além das cores da roupa dele. Para aqueles que já viram, saberão do que eu digo.
Creio que minha espécie de identificação/catarse aristotélica se originou da evidente e suposta falta de vocação do pequeno, que na maioria das vezes não consegue conjurar com eficiência as magias de que necessita. Ainda acho estranho, mas é a forma mais simples de dizer como me sinto com relação à escrita. Não gosto muito de escrever; sinto-me, por vezes, inapta para isso, como se eu desconhecesse os encantamentos próprios da “arte” de pôr em palavras o que se sente. Ainda não sei exatamente como fazer, contudo nada me impede de tentar, não é mesmo?!

2 comentários:

Nair disse...

Amei esse post, com força. De verdade. Achei linda e digna a comparação com o presto - e mais ainda que isso originou tem post. De verdade, eu realmente adorei isso.

E, bem, escrever é como cozinhar - você vê bolos magníficos em docerias, e mesmo que faça alguma idéia de como se faz, tem sempre umas besteirinhas que a gente não faz idéia de onde vem. Escrever é o mesmo: depende de intuição, de gosto, de costume. E, como uma boa comida, o livro pode te deixar deliciado por anos, ou te deixar enojado por dias.

Ninguém faz um bolo igual. Toda receita, mesmo que seja padrão, termina com um toque pessoal de quem o faz - seja ao errar a quantidade de coisas postas, seja ao colocar algo mais que talvez fique bom. E você só sabe se fica bom depois que coloca na boca. Infelizmente, na leitura, o tempo que colocamos na boca é o tempo que abrimos meses depois aquela gaveta onde jogamos todas as idéias e as filtramos.

Mas, acho que principalmente, escrever não é bem uma arte. É uma necessidade. Pelo menos essa é a razão que me faz tentar escrever sempre e sempre - não o faço esperando acertar a receita, mas algo que agrade meu paladar. =)

Ah, moça, saiba que você é uma grande cozinheira desta sopa de letrinhas que é escrever!

Uljota disse...

Eu achei que o texto traduziu bem o que você sente e, mesmo não gostando (muito) de escrever, você conjurou bem a magia que necessitava.

Não sei se sua memória cumpriu suas devidas funções (por sorte) ou se você guardou confetes; mas eu acho que o melhor confete é aquele contruído para o momento, não aquele guardado de recortes do passado.

por fim, fico feliz por poder te dar uma ametista de cor tão rara para tal pedra, isto com certeza não deve ter valor no mercado, rsrs.

beijos