O que é vida senão o conjunto de funções que resistem à morte, afirmou o médico anatomista e fisiologista francês Bichat. Mas será mesmo possível encontrar uma definição esclarecedora para um dos assuntos mais sombrios e discutidos pelo homem?
Primeiramente, deve-se explicitar que tipo de vida abordaremos e justificar o porquê de alongarmos essa discussão sobre determinado conceito. Falaremos, portanto, de vida humana, haja vista ser de nosso conhecimento que apenas o homem tem capacidade de abstração e de raciocinar. Logo, somente o ser humano, dentre todos os seres que possuem vida, em seu sentido biológico, tem consciência de sua existência.
Tal consciência permite que o homem perceba-se como diferente dos outros seres viventes e como único entre os seus semelhantes. Desta forma, ele deixa de ser mero elemento constituinte do mundo da natureza e passa a ser ciente do outro e de si, com isso cria o mundo da cultura.
No decorrer da história, os humanos sempre buscaram respostas para suas indagações, ora nos conceitos científicos como a biogênese e a abiogênese, ora na religião e seus dogmas, ora na filosofia e seus infindáveis questionamentos. O fato é que, mesmo com tão vastas informações, o conhecimento humano parece não ser suficiente para chegar a consensos e teses que afirmem, com a certeza devida, o que realmente é a vida.
Muitos biólogos tentam conceituar vida como um fenômeno que anima a matéria. E para eles, um organismo é vivo quando há a existência de certos fenômenos como: crescimento do indivíduo através da produção de células; metabolismo que consiste no consumo, transformação e armazenamento de energia; movimento; reprodução e resposta a estímulos. Tais características são essenciais para distinguir os seres viventes dos seres inanimados, sob um prisma científico-biológico.
Ainda que esses fenômenos sejam absolutos na área a que se destinam, para nós, seres humanos, a definição de vida restrita a uma série de funções biológicas é insuficiente. Haja vista a importância que damos a raça humana em detrimento dos outros animais, e para entender o porquê de raciocinarmos desta forma, é necessário mencionar o Criacionismo e o Evolucionismo.
Ambos bastante relevantes para entender o pensar do homem contemporâneo em relação à consciência de possuir vida. O primeiro – alicerce do Cristianismo ocidental – afirma ser o homem imagem e semelhança de Deus, o qual, por meio de um sopro divino, daria ao homem o dom da vida e sobretudo o domínio sobre todos os seres viventes. Assim, pondo em primeiro plano a vida humana e subjugando os outros seres, sob a autoridade do Criador.
Por sua vez, o Evolucionismo – teoria cientifica cujo maior expoente é Charles Darwin – vem de encontro ao criacionismo, por que diz ser o homem, como o conhecemos hoje, mero resultado de sucessivas evoluções de um ancestral limitado em atributos e, por isso, igual aos outros animais em suas restrições, Perdendo, por conseguinte, a aura que o caracterizava e o distinguia como superior e meio divino.
Desta dicotomia, surge uma razão de ser paradoxal que consiste no fato de ser o homem, ora o exemplar de vida mais sofisticado em meio a tantas outras formas de vida, ora, apenas, uma dentre tantas formas de vida que mais eficientemente adaptou-se com o intuito de perpetuar sua espécie neste planeta.
Por outro lado, para Nietzsche, a vida é a moralidade, o querer, tudo extravasado pela vontade de poder dentro do corpo do indivíduo. E esse corpo a que ele se refere seria o pensamento humano. Também de acordo com o filósofo alemão, a vida não é uma calmaria, mas um conflito de desejos atravessados pelas diversas construções a cada instante pela experiência individual e coletiva. O que denota uma vida com um grau de complexidade maior do que um simples conjunto de funções biológicas.
Pode-se apreender, portanto, que viver implica, sobretudo, sentir e querer ser sempre ou quase sempre mais do que se é, o que Nietzsche chamou de Vontade de Poder, com a finalidade de encontrar sentido que motive sua existência. Mesmo que para o pensador a vida seja um absurdo e, por isso destituída de sentido, somente adquirindo sentido quando o sujeito vivente o cria para si, o que o torna sujeito livre. São, portanto, vivos somente aqueles, que por meio do exercício filosófico, se permitem questionar o sentido da vida, em conseqüência disto, podem, então, aproximar-se do conceito de vida em sua plenitude.
A partir daí, aparece outros questionamentos acerca de liberdade, pois partindo-se do pressuposto de que ao buscar sentido para vida, obtém-se consciência de si como indivíduo, como ser vivente e como possuidor de livre-arbítrio. O que aparentemente mostra-se agradável, visto que enxerga-se liberdade como fim primordial do ser humano. Sob uma ótica nietzscheana, contudo, liberdade é um fardo, mas que somente é tomado por aqueles que corajosamente admitem a vida como ela se apresenta.
No entanto, hodiernamente, tem-se a redução da vida ao poder de consumo de cada ser humano. Sendo, por isso, comum achar-se que para ser, é necessário ter. Sabe-se que esta forma de pensar é fruto do Materialismo e do Utilitarismo tão em voga no modo de produção capitalista em que estamos inseridos.
Tal modo de produção induz ao consumo e à necessidade de consumir exacerbadamente, criando em torno de si um círculo vicioso, no qual o homem é mais uma peça em meio a tantas engrenagens, de acordo com uma visão de mundo mecanicista cartesiana. Portanto, a vida humana seria produzida em série, a fim de preencher funções inespecíficas na enorme máquina-mundo.
Embora a lógica nos diga que esta idéia, seres engrenagens em um planeta-indústria, é perfeitamente aceitável, algo nos seres humanos que se nomeia de essência, de individualidade ou de sentimento de humanidade nos diz o contrário. Prova disso é que cada um deles, além de destacar os homens do mundo da natureza, nega a massificação do querer, do pensar e do agir humanos.
Essa massificação acarreta mudanças sensíveis nas relações pessoais das quais tanto depende a vida humana, pois, segundo o filósofo grego Aristóteles, o homem é essencialmente político e sociável. Essas mudanças consistem na fragilidade das diversas formas de relacionamento, que, muitas vezes, são baseadas no pragmatismo e no “do ut des” – dou para que dês -, transformando as interações humanas em ligações superficiais e as demonstrações de afeto em meras ações mecânicas e automáticas. O que resulta numa grande inversão de valores e na dúvida da real importância da vida.
Surge, então, o intenso uso dos meios de comunicação como a internet para preencher a sensação de vazio e de solidão do viver humano que, geralmente, advém de ideologias como o individualismo. Este, por sua vez, afasta os seres humanos uns dos outros, intensificando as angústias e tormentos da alma humana. Daí, o fato de doenças psíquicas e psicológicas como a depressão e a fobia social serem tão comuns em nossos dias.
Um dos sintomas mais graves desses males é a ausência de vontade de viver e a falta de sentido que motive a existência. O que, algumas vezes, leva ao suicídio. Demonstra-se, assim, que realmente as questões da vida e de sua importância estão em segundo plano. Em suma, o bem-estar e o bem-viver são postergados, em detrimento da preocupação e da busca insana e quase irracional por sucesso, dinheiro, bens e status social.
Importa dizer que, para mim, embora seja um “topoi”, a beleza da vida está nas coisas simples, no ato de contemplar o mundo sensível, no estudar com afinco e questionar a própria vida, e no abraçar cada pessoa e sentir inteiramente o afeto daquele gesto. Certamente, não chegaremos a uma única definição ou resposta, porém, melhor do que o fim, é o caminho que percorremos até ele; e é provável que a vida seja também o enigma que tentamos decifrar enquanto compartilhamos e usufruímos dele neste exato momento.
Primeiramente, deve-se explicitar que tipo de vida abordaremos e justificar o porquê de alongarmos essa discussão sobre determinado conceito. Falaremos, portanto, de vida humana, haja vista ser de nosso conhecimento que apenas o homem tem capacidade de abstração e de raciocinar. Logo, somente o ser humano, dentre todos os seres que possuem vida, em seu sentido biológico, tem consciência de sua existência.
Tal consciência permite que o homem perceba-se como diferente dos outros seres viventes e como único entre os seus semelhantes. Desta forma, ele deixa de ser mero elemento constituinte do mundo da natureza e passa a ser ciente do outro e de si, com isso cria o mundo da cultura.
No decorrer da história, os humanos sempre buscaram respostas para suas indagações, ora nos conceitos científicos como a biogênese e a abiogênese, ora na religião e seus dogmas, ora na filosofia e seus infindáveis questionamentos. O fato é que, mesmo com tão vastas informações, o conhecimento humano parece não ser suficiente para chegar a consensos e teses que afirmem, com a certeza devida, o que realmente é a vida.
Muitos biólogos tentam conceituar vida como um fenômeno que anima a matéria. E para eles, um organismo é vivo quando há a existência de certos fenômenos como: crescimento do indivíduo através da produção de células; metabolismo que consiste no consumo, transformação e armazenamento de energia; movimento; reprodução e resposta a estímulos. Tais características são essenciais para distinguir os seres viventes dos seres inanimados, sob um prisma científico-biológico.
Ainda que esses fenômenos sejam absolutos na área a que se destinam, para nós, seres humanos, a definição de vida restrita a uma série de funções biológicas é insuficiente. Haja vista a importância que damos a raça humana em detrimento dos outros animais, e para entender o porquê de raciocinarmos desta forma, é necessário mencionar o Criacionismo e o Evolucionismo.
Ambos bastante relevantes para entender o pensar do homem contemporâneo em relação à consciência de possuir vida. O primeiro – alicerce do Cristianismo ocidental – afirma ser o homem imagem e semelhança de Deus, o qual, por meio de um sopro divino, daria ao homem o dom da vida e sobretudo o domínio sobre todos os seres viventes. Assim, pondo em primeiro plano a vida humana e subjugando os outros seres, sob a autoridade do Criador.
Por sua vez, o Evolucionismo – teoria cientifica cujo maior expoente é Charles Darwin – vem de encontro ao criacionismo, por que diz ser o homem, como o conhecemos hoje, mero resultado de sucessivas evoluções de um ancestral limitado em atributos e, por isso, igual aos outros animais em suas restrições, Perdendo, por conseguinte, a aura que o caracterizava e o distinguia como superior e meio divino.
Desta dicotomia, surge uma razão de ser paradoxal que consiste no fato de ser o homem, ora o exemplar de vida mais sofisticado em meio a tantas outras formas de vida, ora, apenas, uma dentre tantas formas de vida que mais eficientemente adaptou-se com o intuito de perpetuar sua espécie neste planeta.
Por outro lado, para Nietzsche, a vida é a moralidade, o querer, tudo extravasado pela vontade de poder dentro do corpo do indivíduo. E esse corpo a que ele se refere seria o pensamento humano. Também de acordo com o filósofo alemão, a vida não é uma calmaria, mas um conflito de desejos atravessados pelas diversas construções a cada instante pela experiência individual e coletiva. O que denota uma vida com um grau de complexidade maior do que um simples conjunto de funções biológicas.
Pode-se apreender, portanto, que viver implica, sobretudo, sentir e querer ser sempre ou quase sempre mais do que se é, o que Nietzsche chamou de Vontade de Poder, com a finalidade de encontrar sentido que motive sua existência. Mesmo que para o pensador a vida seja um absurdo e, por isso destituída de sentido, somente adquirindo sentido quando o sujeito vivente o cria para si, o que o torna sujeito livre. São, portanto, vivos somente aqueles, que por meio do exercício filosófico, se permitem questionar o sentido da vida, em conseqüência disto, podem, então, aproximar-se do conceito de vida em sua plenitude.
A partir daí, aparece outros questionamentos acerca de liberdade, pois partindo-se do pressuposto de que ao buscar sentido para vida, obtém-se consciência de si como indivíduo, como ser vivente e como possuidor de livre-arbítrio. O que aparentemente mostra-se agradável, visto que enxerga-se liberdade como fim primordial do ser humano. Sob uma ótica nietzscheana, contudo, liberdade é um fardo, mas que somente é tomado por aqueles que corajosamente admitem a vida como ela se apresenta.
No entanto, hodiernamente, tem-se a redução da vida ao poder de consumo de cada ser humano. Sendo, por isso, comum achar-se que para ser, é necessário ter. Sabe-se que esta forma de pensar é fruto do Materialismo e do Utilitarismo tão em voga no modo de produção capitalista em que estamos inseridos.
Tal modo de produção induz ao consumo e à necessidade de consumir exacerbadamente, criando em torno de si um círculo vicioso, no qual o homem é mais uma peça em meio a tantas engrenagens, de acordo com uma visão de mundo mecanicista cartesiana. Portanto, a vida humana seria produzida em série, a fim de preencher funções inespecíficas na enorme máquina-mundo.
Embora a lógica nos diga que esta idéia, seres engrenagens em um planeta-indústria, é perfeitamente aceitável, algo nos seres humanos que se nomeia de essência, de individualidade ou de sentimento de humanidade nos diz o contrário. Prova disso é que cada um deles, além de destacar os homens do mundo da natureza, nega a massificação do querer, do pensar e do agir humanos.
Essa massificação acarreta mudanças sensíveis nas relações pessoais das quais tanto depende a vida humana, pois, segundo o filósofo grego Aristóteles, o homem é essencialmente político e sociável. Essas mudanças consistem na fragilidade das diversas formas de relacionamento, que, muitas vezes, são baseadas no pragmatismo e no “do ut des” – dou para que dês -, transformando as interações humanas em ligações superficiais e as demonstrações de afeto em meras ações mecânicas e automáticas. O que resulta numa grande inversão de valores e na dúvida da real importância da vida.
Surge, então, o intenso uso dos meios de comunicação como a internet para preencher a sensação de vazio e de solidão do viver humano que, geralmente, advém de ideologias como o individualismo. Este, por sua vez, afasta os seres humanos uns dos outros, intensificando as angústias e tormentos da alma humana. Daí, o fato de doenças psíquicas e psicológicas como a depressão e a fobia social serem tão comuns em nossos dias.
Um dos sintomas mais graves desses males é a ausência de vontade de viver e a falta de sentido que motive a existência. O que, algumas vezes, leva ao suicídio. Demonstra-se, assim, que realmente as questões da vida e de sua importância estão em segundo plano. Em suma, o bem-estar e o bem-viver são postergados, em detrimento da preocupação e da busca insana e quase irracional por sucesso, dinheiro, bens e status social.
Importa dizer que, para mim, embora seja um “topoi”, a beleza da vida está nas coisas simples, no ato de contemplar o mundo sensível, no estudar com afinco e questionar a própria vida, e no abraçar cada pessoa e sentir inteiramente o afeto daquele gesto. Certamente, não chegaremos a uma única definição ou resposta, porém, melhor do que o fim, é o caminho que percorremos até ele; e é provável que a vida seja também o enigma que tentamos decifrar enquanto compartilhamos e usufruímos dele neste exato momento.
3 comentários:
Gostei muuitooo do seu texto,vc fez uma explanação ciêntifica,filosofica e psicologica.
A história da psicologia na noossa literatura descreve essa linha do tempo como um conflito existencial que o homen carrega até hoje com tais indagações:de onde vim? o que eu sou? para onde vou? enfim pela fé sabemos que Deus é o centro de tudo. O filosófo Aristótenes fala da tabua rasa,acho perfeito a busca do equilibrio.....
Para mim Amar e declarar mais o Amor é fundamental.AMO.. AMO muitooo vc minha filha querida e unica.
oi Érica, texto pequeno hein?
Ótimo, Vê-se bibliografia elevada. A escritora tem cultura, hahaha.
Gostei do texto =) do início ao fim, quando pensava em alguma coisa ela logo vinha em seguida no texto =p.
Parabéns continue escrevendo.
Porra, minha amiga é foda mesmo.
Ok, deixando de lado os comentários supérfluos e agressivos, cara, parabéns. Não que eu esperasse menos de você, mas ainda assim tu conseguiste me surpreender. E fiquei pensando nisso também. A única crítica que eu teria a fazer é ter dado ênfase a um só pensador, e não à filosofia como um todo - sei que é absurdamente difícil concentrar toda a idéia de vida sobre a filosofia em tão poucos parágrafos, mas tu conseguiu TÃO BEM resumir as idéias religiosas - ainda que usando o cristianismo como base - e biológicas, que achei que ficou faltando... Algo, não sei. Mas é uma coisa tão pequena perto do texto inteiro que me deixou muito bege. Tou chocada com tanta vitória e superioridade em tão poucas linhas, e isso é sério.
E não tenho praticamente nada a discordar de você! E digo mais: Sofrer é uma opção do ser humano. Aliás, corrigindo: Permanecer sofrendo é uma opção do ser humano, e ouso dizer que são poucos os que escolhem não sofrer, dar as caras, receber críticas, saber quem são e onde estão: preferem a modéstia, a timidez e a pena alheia. Ainda que pouco, mas preferem - o problema é até onde isso vai (e até onde eles enchem meus culhões com porcarias negativas, rs).
Menina, temos que parar um dia SÓ pra debater isso! Amei demais teu texto! =O
Beijão! E NÃO OUSE parar o blog. u_u
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