quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sobre o fado ou o acaso

Hoje eu não despertei tão disposta quanto ontem - haja vista eu ter acordado às 8 em ponto e não estar com meu mau humor matinal nem tampouco com resquíscio do sono recém-findo - levantei às 10:30, como de costume, tomei um banho e lavei os cabelos com o meu xampu preferido. Afora minhas outras atividades rotineiras, saí atrasada para o curso de inglês, one more time. Ainda na parada de ônibus que fica embaixo de algumas árvores do bairro sensivelmente arborizado em que moro, esperei o único ônibus que passa por minha rua. Passado alguns minutos, sinto cair sobre minha cabeça um pouco de cocô de pássaro (que beleza, hein!). Após praguejar baixinho e mentalmente com todo o repertório de palavrões que eu conhecia, lembrei da última vez em que algo parecido tinha me acontecido.
Certa vez, eu estava saindo para ir ao colégio usando pela primeira vez um par de tênis - muito desejado por mim àquela época - que eu acabara de ganhar. Fato é que logo que eu pus os pés, devidamente calçados, na rua, em frente a uma das casas em que vivi, pisei em bosta de cachorro e antes mesmo que eu me pusesse a maldizer por pura irritação, ouvi o seguinte comentário, vindo provavelmente do meu pai: "pisar em merda é sinal sorte, traz dinheiro!". Depois de lavar os sapatos e seguir meu rumo, pensei que talvez aquela fosse uma boa maneira de ver as coisas.
Outra lembrança quanto a isto me remete a uma aula de literatura que explicava o porquê de artistas, antes do início de algum espetáculo, desejarem merda uns aos outros; algo do tipo: - Merda pra você! Tal expressão, segundo meu professor, é oriunda do costume de artistas franceses que começaram a dizer a palavra merda como uma espécie de saudação antes dos espetáculos. Tal ação advinha da história de certo ator, que no dia de sua estréia, tem vários problemas e quase não chega ao teatro, além disso, ele estava bastante nervoso e antes de entrar no teatro pisa em um cocô e ainda que tudo tivesse dado errado, ele consegue, por fim, atuar impecavelmente e saí do teatro com a sensação de ter feito o melhor trabalho até aquele momento. Essa tradição de dizer merda, evidentemente, tornou-se generalizada principalmente entre os artistas, o que implica dizer que os atores, ao proferirem o vernáculo merda, estão simplesmente desejando sorte e que o destino seja feito.
Para mim, que ainda não sei se devo apostar tanto assim na sorte e que vê o destino com olhos de admiração e desconfiança, prefiro crer em uma merda à moda francesa, posto que me é mais gratificante pensar assim, depois de ser acertada pela caca alheia de aves desconhecidas.
Ainda no âmbito do desconhecido, sinto-me imersa (ou seria emersa?) numa conjectura aparentemente inteligível, embora só consiga enxergar nuances deste ubíquo universo particular que sobre mim pesa e que, concomitantemente, se confunde com o que sou. No mais, como diria o imperador romano Júlio César: "alea jacta est". A sorte está lançada e eu não sei em que gaveta eu guardei os dados.

domingo, 5 de setembro de 2010

Das coisas de dentro

E se por acaso isso cair no esquecimento. E se o que sei não for nada mais do que o ponto do sinal interrogativo. Ao menos parece que ainda há certa estrada a percorrer, antes de mudar o caminho. Por um momento, eu pensei que minha bússola, sempre tão precisa, estivesse dentro do baú. Parecia-me tão seguro, mas vejo que eu devo ter me enganado. E mesmo sendo feita de palavras e conceitos, faltam-me o léxico adequado, o signo necessário que me ajudariam com aquele sentido inexato, aquela parte de difícil acesso, aquilo que de tão escondido e protegido parece não querer mostrar sua face e suas particularidades.

Quando setembro vier

De tão azul, o céu parecerá pintado. E nós embarcaremos logo rumo às ilhas Cíclades.


Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaléias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro. Setembro estava chegando enfim.


(...)
 Caio F. Abreu
http://contoseencantoscf.blogspot.com/2010/09/quando-setembro-vier.html